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Canibalismo de cauda – Como identificar em suínos

O canibalismo de cauda é um problema imprevisível e causa muitos prejuízos para a suinocultura. Conhecer e identificar os sinais de alerta pode ajudar a reduzir as perdas associadas. Novas ferramentas de precisão usadas em produção animal podem facilitar o monitoramento contínuo e a identificação dos sinais de alerta em granjas suínas.

Causas do canibalismo de cauda em suínos

As causas do canibalismo de cauda são muito complexas e multifatoriais. A ausência de uma causa claramente identificada faz com que o problema seja de difícil controle.

Pode ser resultado de ataques agressivos de outros suínos causados por frustração. Pode estar relacionado a erros de manejo como superlotação, altos níveis de amônia, competição por ração ou falta de enriquecimento ambiental.

O canibalismo secundário de cauda envolve o tecido já anteriormente lesionado, que apresenta necrose e inflamação. O odor do tecido lesionado e a visão do sangue atraem os suínos, que começam a mordiscar ou morder a área afetada, o que explica a associação entre canibalismo e a Síndrome da Inflamação e Necrose Suína (SINS). Trabalhos recentes sugerem que o estresse oxidativo que causa inflamação e morte celular também poderia favorecer o canibalismo secundário de cauda. Quando ocorre acúmulo de células mortas, geralmente em pontas de orelhas e de cauda em suínos, o odor passa a ser diferente, o que atrai os demais suínos.

Custo do canibalismo de cauda

O canibalismo de cauda afeta não só o bem-estar dos suínos, como também resulta em prejuízos econômicos significativos para os suinocultores. As feridas na cauda podem ser uma fonte de infecção que resulta em morbidade e mortalidade, com impactos negativos sobre o ganho de peso dos suínos e estima-se que o custo seja de €0,59 por animal. Além disso, existem custos adicionais de mão-de-obra e serviços veterinários a considerar, além dos prejuízos pela condenação de carcaças ao abate. Acredita-se que a prevalência na granja é mais elevada do que sugerem os dados do frigorífico. Como os ferimentos decorrentes do canibalismo de cauda são geralmente tratados com antibióticos, um melhor controle dos surtos do problema também pode ajudar a reduzir o uso de antibióticos em granjas suínas.

Sinais precoces de alerta de canibalismo de cauda em suínos

Para que os efeitos negativos do canibalismo de cauda sejam reduzidos de forma eficaz, o diagnóstico do problema deve ser precoce. O comportamento de canibalismo só é geralmente detectado quando já existem lesões de cauda, o que torna mais difícil interromper o surto. A identificação de sinais precoces de alerta ajuda a reduzir a imprevisibilidade do surto.

Diversos estudos demonstraram que a posição da cauda pode ajudar a prever futuros danos. Suínos observados com a cauda entre os membros posteriores apresentavam maior probabilidade de marcas de mordida ou lesão da cauda 2-3 dias depois se comparados aos animais que mantinham a cauda ereta. Esta observação foi validada tanto para leitões desmamados quanto animais de terminação. Outros relataram que a cauda pendente durante a alimentação apresentou correlação significativa com a presença de lesões da cauda. Suínos com lesões apresentavam uma probabilidade quatro vezes maior de apresentar cauda pendente se comparados a animais sem lesões de cauda. Dados de estudos adicionais também forneceram informações que permitem prever a proximidade de um surto de canibalismo no plantel. Em um estudo, 15% dos suínos do plantel apresentaram cauda pendente 7 dias antes do surto e este número chegou a 20-25% no dia anterior à detecção do surto.

Estes dados sugerem que a posição da cauda pode ser utilizada como indicador precoce de alerta. A inspeção regular da posição da cauda dos suínos permite a identificação precoce do canibalismo de cauda e pode evitar que o problema se intensifique ainda mais.

Ferramentas de precisão em produção animal para a detecção precoce de sinais de alerta

Considerando a escassez de mão-de-obra e o crescente número de animais terminados por granja, o monitoramento individual dos suínos é cada vez mais difícil em condições comerciais. Hoje em dia, os funcionários de grandes granjas dedicam em média apenas 5 segundos por dia para a inspeção de cada suíno de terminação. Assim, a automação da detecção da posição da cauda em monitoramento contínuo faria uma enorme diferença para a granja.

Pesquisadores da Universidade Rural SRUC de Edimburgo investigaram a eficácia de câmeras 3D para automatizar o monitoramento do posicionamento da cauda. Câmeras 3D e algoritmos de análise de visão foram usados para verificar automaticamente a posição da cauda em grupos de suínos antes, durante e depois de episódios de canibalismo de cauda. Os resultados do estudo confirmaram que a tecnologia era precisa o suficiente para emitir sinais de alerta para canibalismo iminente na granja. Além disso, a proporção de caudas pendentes aumentou ao longo do tempo pré-surto, foi maior em grupos com o problema que em grupos controle e foi associada à maior incidência de lesões de cauda.

Na Universidade de Wageningen na Holanda, cientistas especializados em comportamento estão em processo de avaliação da aplicação de tecnologias semelhantes e utilização da posição da cauda como indicador de resiliência em suínos.

Modelos de avaliação de risco de surtos de canibalismo de cauda

Uma abordagem diferente foi proposta para a prevenção de surtos de canibalismo de cauda em granjas suínas usando um modelo baseado em metodologias CRT (Classification and Regression Tree – Classificação e Árvore de Regressão). A análise CRT demonstrou que cinco variáveis principais (taxa de lotação, níveis de amônia, número de suínos por funcionário, tipo de piso e cumprimento dos horários de arraçoamento) poderiam ser os fatores preditivos críticos, ajudando suinocultores e veterinários a controlar melhor estas variáveis predisponentes e evitar lesões agudas de canibalismo de cauda na granja.

Prevenção do canibalismo de cauda relacionado ao estresse oxidativo

O estresse oxidativo e a consequente inflamação no organismo do suíno é geralmente resultante da resposta do animal aos fatores de estresse tais como desmame, alta taxa de lotação, alta temperatura ambiente, mas também a fatores de estresse alimentar, como micotoxinas. De maneira geral, a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) se eleva nas células do organismo e caso os mecanismos próprios de defesa do animal sejam exauridos, ocorre o estresse oxidativo, que por sua vez contribui para intensificação das respostas inflamatórias. Desta forma, o suporte à capacidade antioxidante do suíno através de meios nutricionais pode ajudar a reduzir o risco de canibalismo de cauda relacionado ao estresse oxidativo. Seria ainda mais eficiente se as respostas inflamatórias pudessem ser bloqueadas ou inibidas simultaneamente. Extratos vegetais com capacidade comprovada de promover maior capacidade antioxidante em suínos podem constituir parte de uma solução nutricional.